Após divulgar o print de uma conversa, em que uma pessoa pergunta se “um gari pode fazer biomedicina”, Cleverson Carlos de Azevedo Silva, 21 anos, levantou uma reflexão sobre o que um gari pode ou não pode fazer.
“As pessoas deveriam pensar um pouco antes de falar, palavras têm peso. Já não é uma profissão valorizada, e ainda tenho que passar por isso”, comentou o rapaz, que mora em São Paulo (SP).
Cleverson conta que ficou triste com a mensagem, ainda mais porque conhecia a pessoa, que supostamente era seu amigo. “Eu me senti ofendido, ele quis dizer que gari não pode fazer nada. Me magoou bastante, ainda mais por ser um amigo próximo. Assim que ele viu que eu divulguei o print, mesmo sem identificá-lo, ele me bloqueou. Ainda não pediu desculpas nem nada”, explicou Cleverson.
Segundo o gari, o sonho do diploma em biomedicina surgiu primeiro no coração de sua mãe. “Eu não passei no exército, meu sonho era seguir carreira militar, mas não deu. Aí fui olhar a biomedicina e vi que tem a parte da perícia. Tenho o sonho de me formar e virar perito criminal na Polícia Federal”, conta.
Orgulho em ser gari
Para alcançar o diploma e seguir carreira como perito criminal na PF, Cleverson precisava de um emprego para pagar a mensalidade da faculdade.
“Surgiu a oportunidade de ser gari e não pensei duas vezes. O dinheiro serve para pagar a faculdade e ajudar meus pais com as contas, alimentação, aluguel, essas coisas. Sobra bem pouco, mas vivemos bem”, diz o jovem, que mora em uma favela no Parque Santa Madalena, na Região Leste da capital paulista, com os pais e três irmãos.
O jovem também trabalha como técnico em informática. “Na época, minha mãe não tinha condições de pagar a inscrição do curso, que era R$ 30. Minha tia me emprestou o dinheiro, consegui estudar e me formar em nível técnico”, continua.
Cleverson ignora o preconceito e se abstém das palavras ofensivas que às vezes surgem nas redes sociais. “Tenho orgulho de ser gari. Recebi muitas mensagens de apoio, falando para eu continuar estudando, que meu futuro vai ser brilhante. Estou indo para 2º semestre, estudo à noite e trabalho de dia. Dá para conciliar os dois, mas é puxado”, conta.
Fonte Razões Para Acreditar.